O que sei sobre Deus

Ela saiu batendo a porta do lugar aonde trabalhava, e com lágrimas nervosas escorrendo pelos olhos.

- Quando é que as coisas ficaram tão difíceis?

Tremendo de nervoso sentou na sarjeta daquela calçada.

Sentia tudo pesado, o peito cheio e a dificuldade de respirar devido ao choro compulsivo.

Porque de repente o mundo se tornou tão injusto? Onde estava aquela leveza de antes?

Cadê Deus? Porque ele deixa que coisas assim aconteçam? Porque ele me deixa tão sozinha?

Quando sentiu um leve tocar em seu queixo.

- Chore pra cima. Não pra baixo.

Ela não o percebeu se aproximar. Ficou um tanto desconsertada e quase não conseguiu olhar para aquele estranho.

Mas percebeu a bondade na doçura de sua voz.

Ela o olhou com estranheza e mesmo assim ele resolveu se sentar ao seu lado, um pouco atrapalhado com aquelas vassouras que tentava segurar.

- Deus não deixa que as coisas aconteçam. A escolha é sua.

Foi naquele momento de surpresa que ela levantou a cabeça.
Ele tinha uma pele queimada, maltratada pelo sol e pouco mais que quarenta anos. E carregava enorme ternura em seus grandes olhos azuis.
Ela o olhava com espanto. Mas estranhamente deixara de se sentir só desde que aquele estranho vendedor de vassouras apareceu.
Ele sorria.
- As pessoas acham que lagrimas de felicidade tem uma beleza especial. Mas escondem as lágrimas de dor.
Ela se perguntava porque aquele estranho perderia o seu tempo ali.
Poucos minutos depois ela estava de pé ouvindo histórias de “como se vende uma vassoura” e sorrindo.
Engraçado como um gesto simples acende uma luz no escuro da gente.
Ele colocou as vassouras nas costas e saiu com um sorriso dizendo:

- Olhe sempre pra cima.

Ela respirou fundo e voltou ao trabalho rindo daquele estranho encontro.

Quando perguntaram o que aconteceu ela respondeu:

- Deus tem olhos azuis e vende vassouras.