O Senhor Antônio viveu a sua vida trabalhando na roça, na pequena cidade de São José da Bela vista. Ele era muito católico e possuía a bíblia mais bonita que já se viu, onde escreveu seu nome na contracapa.

Morreu aos 98 anos de idade. Três vezes, no mesmo dia.

Pelo menos é o que contam as lendas.

Dizem que ao sair do corpo ele foi visitar a neta favorita, que estava grávida, sentou na sua cama e disse que estava só descansando antes de ir.

Claro que ele precisava. Morreu três vezes.

Dizem que anos depois assombrou a bisneta, achando que estava visitando essa neta que ele tanto gostava. Ficou confuso ao ver as duas e nunca mais voltou.

Mas as confusões começaram quando ele ainda era vivo e foi morar com o filho mais novo, ficando quase todo o tempo com a nora.

Ela conta que ele gostava de sentar na varanda e olhar o movimento da outra rua. As casas não tinham muros.

Certa vez, houve um velório em uma das casas daquela rua. Um policial havia morrido, por problemas em seu coração. Mas Sr. Antônio começou a delirar, que ele, aos seus 90 anos de idade havia assassinado o moço e que toda aquela policia estava ali a sua procura.

Seu filho, achando que ajudaria, pediu para que um amigo policial fosse falar com ele.

Mas ele entrou em pânico. Quis correr segurando aquele seu tão famoso guarda-chuva que eu me lembro se parecer com uma bengala, tamanho o seu desespero.

Ele nunca mais pode ver um policial.

A sua nora foi quem estava com ele no hospital no dia de sua morte. E conta que os médicos concluíram que ele estava morto 3 vezes. E em duas delas ele voltou a conversar, nervoso dizendo que não ia morrer.

Na terceira vez, foram mais cautelosos e esperaram algumas horas para ver se o velhinho tinha partido mesmo.

Dessa vez ele se rendeu, não voltou.

Ficaram só as lendas de sua personalidade atrapalhada, as histórias e a letra com seu nome na contra-capa da bíblia.

Letra que se parece com a minha.

O lendário Sr. Antônio de Faria, de São José da Bela vista, que morreu 3 vezes no mesmo dia, era meu avô.