quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Nas noites de quaresma papai costumava sentar no sofá menos da sala e contar as histórias que assombraram a sua infância.
Eu tinha medo. Fingia que não para que as pessoas não rissem de mim. Mas eu tinha medo.
A luz que virava um homem e matava as pessoas que estivessem fora das suas casas após as 7h da noite em São José da Bela Vista.
O padre sem cabeça que andava pelas estradas com uma bíblia nas mãos.
Mas eu não tinha medo das noivas.
Ele contava que as noivas que foram mortas no dia de seu casamento andavam pela praça em frente ao cemitério de um lado para o outro.
E eu imaginava aquelas mulheres vestidas de branco, perambulando em círculos naquela pracinha aonde mais tarde participei de tantas rodas de violão.
Me recordo de ter me lembrado disso em uma dessas rodas e pensado na dor da desilusão de ter o dia mais sonhado de suas vidas arrancado pela morte.
Com o tempo essas histórias deixaram de me assustar. Luzes e fantasmas sem cabeças deixaram de me atormentar.
Dando lugar a fantasmas de carne e osso que insistem em me assombrar.

(Aiyra Grian)

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